Marcelo Gonçalves
As luzes se apagam, todos ficam em completa escuridão. Escutamos um barulho de cincerro vindo do fundo do palco e, logo após, uma voz feminina começa a cantar. É assim que se inicia a peça de teatro “A lenda da cobra e do sapo e outras histórias”, apresentada pela atriz cantante Adriana Maciel. Com um figurino simples e caprichado, descalça e sem nenhum cenário, somente uma luz quente, a atriz começa a contar histórias e usa somente o corpo para se expressar e, mesmo sozinha, consegue ocupar o palco inteiro. Traz para cena recortes de narrativas populares que perpassam pelo imaginário da fé, do sertão e dos antigos contadores de histórias do interior brasileiro.
De acordo com a sinopse do espetáculo, buscando memórias de outras vidas, ela se recorda de momentos que a marcaram, lembrando, também, do dia mais feliz de todos, quando se tornou amiga de um sapo. Uma frase muito repetida durante toda a obra é “lembranças e histórias, momentos que ficam guardados na memória”.
Conhecemos um homem que vai buscar na venda da cidade produtos para levar pra roça; uma mulher que trabalha na venda; uma menina que aprende uma oração para se proteger das coisas ruins; um boi bravo que, após escutar o verso de oração, torna-se um bezerro; e os personagens que dão nome à lenda, uma cobrinha e um sapinho que se tornam amigos em uma tarde quando se encontraram em uma estradinha.
Adriana consegue arrancar risadas de toda plateia, que vai de crianças de colo até idosos. A interação com o público faz parte da peça. Batemos palmas, rimos e nos encantamos. Não podemos esquecer da mãe sapo e do pai cobra, que, sabendo sobre a aproximação dos filhos, fazem dramas que podem ser vistos em muitos lares brasileiros. Acabamos nos identificando e rindo cada vez mais. É isso que nos faz encantar e rir. Nós espelhamos nosso dia a dia ali nos personagens ou lembramos de alguém que se parece com eles. Foca a lição de vida que é saber respeitar as diferenças. São encontros nos caminhos tortuosos da vida que define nosso ser e trazem grandes e felizes surpresas. Concorda?